Aprendendo a criar de novo: uma jornada de publicitária à UX designer

Maria Clara Monteiro
4 min readJul 9, 2021

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Trecho da música Walk, da banda Foo fighters. Tradução: Aprendendo a andar de novo. Acredito que esperei tempo demais. Por onde começo?

O ano é 2004 e preciso escolher uma graduação. Faço o vestibular para Publicidade e passo sem ter muita ideia do que é o curso para além dos comerciais televisivos. Corta para 2021, ano que estou migrando para UX design, desta vez, sabendo sobre o que é a profissão.

Antes de entrar na questão do UX, preciso fazer uma reflexão sobre a minha profissão na Publicidade. Sempre tive uma relação com ela permeada de questionamentos. Na graduação, aprendi a fazer layouts de peças gráficas, mas sem pensar muito no público para além dos dados demográficos. Ao escolher a temática do TCC para finalizar o curso, pesquisei sobre como se dava a relação de jovens adultos com jingles radiofônicos escutados na infância, temática totalmente envolvida com minha história de vida. A partir daí, começou um relacionamento sério com a pesquisa acadêmica que, hoje, vejo como me ajudou a ter empatia pelas pessoas, algo crucial para o UX designer.

No meu portfólio, digo que tenho uma vida dupla: vida dupla: pesquisadora e designer. Isso perdura há mais de 10 anos. Ao mesmo tempo que trabalhei em universidades, criando layouts, textos publicitários para campanhas institucionais, também segui com o desejo de entender melhor minha profissão, principalmente na tensa relação entre publicidade e infância, quando começamos a ter contato com esse tipo de comunicação persuasiva.

Imagem da campanha Mamíferos da Parmalat

A pós-graduação me permitiu ter contato com metodologias quantitativa e qualitativa de pesquisa, o que é importante para o UX também, mas o maior aprendizado foi utilizar das técnicas como entrevistas para ouvir, no meu caso, jovens a crianças. Tanto durante a participação em grupos grandes de pesquisa como nas minhas investigações, precisei fazer formulários, roteiros e adaptar as perguntas ao longo de entrevistas para poder conseguir o máximo de informações possíveis. Todo esse processo me ajudou a desenvolver soft skills como conversar com pessoas de diferentes realidades e a ter a curiosidade em entender seus contextos e dores. A pesquisa me ensinou a trabalhar em prol dos usuários, levantar assuntos necessários e entregar o melhor resultado para a sociedade.

Um detalhe sobre o método de trabalho nos grupos e na pós-graduação: eu já trabalhava com sprints, mas não sabia. Tinha que fazer entregas menores de capítulos, projetos escritos, para os “stakeholders” da pós-graduação, os professores orientadores, com prazos específicos de acordo com cada tarefa.

Outro ponto importante é que tanto a Publicidade como a Pós-graduação me permitiram entrar no mundo das redes sociais como YouTube e Instagram, entender seus funcionamentos e como são utilizadas pelos usuários, inclusive pelas crianças. Enquanto publicitária, trabalho diretamente com essas mídias, estudando sempre as tendências e como facilitar o fluxo do usuário até a informação necessária dentro das redes, inclusive utilizando princípios de UX writing. É uma função que envolve autonomia para buscar se atualizar e ao mesmo tempo compartilhar com a equipe o que funciona ou não.

Neste processo de descobrimento do UX design, aprendi que o Design Thinking é o processo focado no usuário. Envolve basicamente cinco etapas: entender, explorar, materializar, testar e implementar. Posso afirmar que, enquanto publicitária, o Design Thinking fez parte do cotidiano como forma de levar uma comunicação mais responsável para o público. Na pesquisa acadêmica, precisei utilizá-lo para poder planejar desde idas ao campo até a apresentação do produto científico, deixando claro cada etapa e todos os percalços percorridos. Em ambos os casos, entender com quem precisamos falar é o primeiro passo para entregar uma solução.

Assim como o UX design, o objetivo da Publicidade e da Pesquisa sempre foi, para mim, entregar uma comunicação limpa, que apresente palavras, expressões, formatos que estejam de acordo com a realidade das pessoas e que as represente, seja por meio de uma tese ou de um post em rede social.

Considero este meu background como essencial para ajudar nessa nova jornada como UX designer, um campo tão amplo que me permite aplicar conhecimentos de mercado e de academia que, num primeiro momento, parecem não dialogar entre si. O UX design é essa área de conhecimento privilegiada em focar no usuário e que realmente pode fazer diferença para alguém, abarcando o que há de melhor da Comunicação, do Design, da Publicidade e da empatia pelo outro.

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